quarta-feira, 29 de junho de 2011

As sustâncias químicas e as estratégias reprodutivas


Independente do tipo de estratégia reprodutiva dos animais (estar ligado ao parceiro ou viver de forma promíscua), comportamentos complexos são necessários.

Numa tentativa de identificar se substâncias químicas podem controlar esse tipo de comportamento, cientistas resolveram fazer um trabalho com dois ratos silvestres, semelhantes a um camundongo. Eles escolheram esses animais, pois espécies próximas destes usam comportamentos reprodutivos muito diferentes.

O arganaz-do-campo (Microtus ochrogaster) vive nas pradarias da América do Norte, ele é muito sociável e tem uma relação monogâmica muito estável. O macho defende de maneira furiosa sua parceira e ambos cuidam dos filhotes. Já o arganaz montanhês (Microtus montanus) que habita as planícies altas, é pouco sociável e bastante promíscuo. Os indivíduos vivem em ninhos isolados, os machos não cuidam dos seus filhotes e as fêmeas fazem isso por pouco tempo.
               Microtus ochrogaster                                            Microtus montanus

Essas espécies de roedores pertencem ao mesmo gênero, dessa forma poucos fatores fisiológicos poderiam contribuir para comportamentos reprodutivos tão diferentes. Baseados em estudos anteriores, os pesquisadores se dedicaram a pesquisar o papel de dois hormônios ligados ao comportamento maternal e territorial, a ocitocina e vasopressina em ratos silvestres.

Os pesquisadores viram que a distribuição dos receptores para esses hormônios é notavelmente diferente no encéfalo de arganazes-do-campo e de arganazes montanheses, enquanto as distribuições de outros neurotransmissores e receptores para hormônios são similares entre as duas espécies. Esses dois hormônios ativam uma rede diferente de neurônios nos encéfalos de ratos silvestres monogâmicos e poligâmicos.

Quando um par de arganazes-do-campo copula, os níveis de vasopressina (nos machos) e de ocitocina (nas fêmeas) aumentam de maneira rápida. A prova de que a vasopressina relaciona-se com a monogamia nos machos é que quando administrados antagonistas desse hormônio, antes do acasalamento, o macho não forma um relacionamento estável com a fêmea. Caso o macho receba vasopressina enquanto está exposto a uma nova fêmea, ele rapidamente desenvolve uma forte preferência por ela, mesmo se a cópula não for intensa. A ocitocina parece ser necessária para a fêmea estabelecer a preferência por seu parceiro, porém antagonistas desse hormônio não fizeram o efeito nas fêmeas como as antagonistas da vasopressina nos machos.

Um estudo feito com um vírus para introduzir genes que levavam a superexpressão de receptores de vasopressina no arganaz montanhê teve como conseqüência um número de receptores para vasopressina comparável com o arganaz-do-campo. O resultado foi a formação de pares desses roedores, como acontece com seu primo do campo.
Vale salientar que a administração de vasopressina ou ocitocina para arganazes montanheses não provoca efeitos de formação de pares ou aumento nos cuidados paternais e maternais, provavelmente porque não tenham receptores nas regiões onde eles são necessários para provocar tais comportamentos.

O que acontece com esses dois roedores mostra como substâncias químicas podem ser cruciais para regulação de certos comportamentos. Sabe-se quem em seres humanos a ocitocina tem papel importante no cuidado maternal, além disso, durante o ato sexual há um aumento no nível dessa substância. Tanto a ocitocina quanto a vasopressina são ativadas quando as mães olham fotos dos seus próprios filhos, mas não quando olham para fotos de filhos de seus amigos.

Será que essas duas substâncias são fundamentais para a o romantismo e monogamia nos humanos?

Fonte: Jornal Ciência

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