sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Cientistas australianos testam bactéria para conter transmissão da dengue por mosquitos



Injetar uma bactéria em mosquitos pode impedir que eles transmitam o vírus da dengue, ajudando a controlar o avanço da doença que atinge 50 milhões de pessoas e mata cerca de 20 mil por ano em mais de 100 países do mundo. Em dois artigos publicados pela revista "Nature" esta semana, cientistas australianos relatam que mosquitos fêmeas infectados com a bactéria Wolbachia contaminaram seus filhotes facilmente, tornando-os livres da dengue. Segundo eles, estes mosquitos deveriam ser soltos na natureza para conter a doença.
 
- Vimos que a bactéria reduz a capacidade dos mosquitos de transmitir a dengue, quase abolindo o vírus dos seus corpos - conta Scott O'Neill, professor da Universidade Monash, na Austrália, e principal autor dos artigos.
 
No experimento, O'Neill e sua equipe injetaram a bactéria em mais de 2,5 mil larvas do Aedes aegypti. Depois que elas eclodiram, os mosquitos foram alimentados com sangue contaminado por dengue, mas nenhum deles se tornou transmissor da doença.

 - A bactéria não se espalha no meio ambiente e é repassada de mãe para os filhos pelos ovos - conta O'Neill. - E quando machos infectados cruzam com fêmeas não infectadas, todos seus ovos morrem. Isso daria um benefício indireto para as fêmeas com a Wolbachia, pois quando elas cruzam com machos infectados seus ovos eclodem normalmente. E como todos seus ovos têm a Wolbachia, a bactéria se torna mais e mais comum a cada geração.

 Segundo O'Neill, há duas teorias para explicar por que a bactéria impede que os mosquitos transmitam a dengue. Numa delas, a Wolbachia provocaria um aumento da atividade do sistema imunológico dos insetos, protegendo-os do vírus. Na outra, a bactéria competiria com o vírus pelo alimento dentro do corpo dos mosquitos, dificultando sua replicação.
 
A equipe do cientista soltou quase 299 mil mosquitos infectados em 370 locais da Austrália em janeiro e verificou que a bactéria se espalhou na população dos insetos com sucesso. Agora, os cientistas buscam aprovação para liberar os mosquitos infectados em regiões onde a dengue é endêmica, como o Brasil, Vietnã, Tailândia e Indonésia, para ver se eles conseguem reduzir as taxas de transmissão da doença.

 - É uma alternativa para o controle da dengue de baixo custo e sustentável, cabível para uso em grandes regiões urbanas de países em desenvolvimento - defende o pesquisador.

Fonte: O Globo




Nenhum comentário:

Postar um comentário