Um predador marinho voraz, conhecido por suas listras coloridas e seus espinhos dorsais venenosos, está devastando populações de peixes de outras espécies que vivem e se abrigam em recifes de corais na costa da Flórida e do Caribe. O invasor peixe-leão - nativo da região Indo-Pacífica, que pode viver até 15 anos e pesar até 200g - se tornou uma das grandes preocupações de biólogos e ambientalistas. E especialistas acreditam que a solução é estimular o consumo deste peixe e de outros invasores marinhos para manter o equilíbrio.
- Os humanos são os predadores mais onipresentes - disse ao "New York Times" Philip Kramer, diretor do programa para Conservação da Natureza do Caribe. - Em vez de comer algo como sopa de barbatana de tubarão, por que não uma espécie que está causando dano, e assim dar uma contribuição positiva?
- Pode haver um mercado real - disse Wenonah Hauter, diretora-executiva do Food and Water Watch, que edita o Smart Seafood e recomenda pela primeira vez que consumidores se interessem e experimentem espécies invasoras, porque seria um hábito mais seguro e sustentável, e uma alternativa a espécies ameaçadas, estimulando pescadores e mercados a capturá-los - diz a diretora, que já tem uma lista de chefs famosos para criar e promover pratos com os invasores marinhos.
- Só comer espécies invasoras não resolverá o problema, mas em alguns lugares pode ser uma estratégia muito útil - disse Kramer.
O United States Fish and Wildlife Service está fazendo estudos para saber em quais áreas essa medida seria mais eficaz. Projetos sugerem que a pesca comercial de carpas asiáticas no Mississipi ajudaria a controlar as populações na região, como parte de um programa integrado de manejo de pragas - disse Valerie Fellows, porta-voz do órgão.
Na prática, ainda não está claro se incentivar a pesca comercial de invasores poderá ter impacto significativo, comentou Valerie. O Corpo de Engenheiros do Exército já gastou milhões de dólares para erguer barreiras eletrônicas que mantenha a carpa asiática longe do Rio Illinois na região dos Grandes Lagos.
E há riscos ao aguçar o apetite dos americanos. A comercialização de uma espécie invasora pode torná-la tão popular que os peixes sejam lançados para se reproduzirem onde ainda não existem, piorando o problema. A tilápia foi originalmente importada para a América Latina para controle de ervas daninhas e insetos, mas sua comercialização ajudou a espécie a se espalhar mais amplamente do que o pretendido.
Um outro problema, diz Kramer, é que a comercialização do peixe-leão pode aumentar o número de armadilhas em recifes, o que levaria à captura de outros peixes. Para este caso específico, ele acredita que a caça submarina seria uma forma sustentável.
E há outras questões a serem resolvidas. Os livros de receitas não dizem muito sobre como preparar uma carpa asiática, que tem estrutura óssea incomum. E mesmo que se crie o interesse por sopa de caranguejo verde europeu, não há lugar para comprar o ingrediente principal, embora ele seja abundante no mar.
Para aumentar a demanda de culinária com espécies invasoras, a Food and Water Watch fez uma parceria com a Fundação James Beard e Kerry Heffernan, chef no restaurante South Gate, em Nova York, para elaborar receitas com as criaturas. No verão passado, a The Nature Conservancy patrocinou um evento no qual chefs criaram cardápios à base de peixe-leão nas Bahamas, espécie que chegou ao Caribe no início de 1990 e se espalhou.
Fonte: O Globo.
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