sexta-feira, 15 de julho de 2011

Micróbios aceleram aquecimento global



Mais dióxido de carbono (CO2) na atmosfera causa a liberacão pelo solo dos poderosos gases estufa metano e óxido nitroso, de acordo com pesquisa publicada neste semana da revista
Nature. "Este feedback para nossa atmosfera significa que a natureza não é tão eficiente para desacelerar o aquecimento global quanto se pensava anteriormente", afirma Kees Jan van Groenigen, pesquisador do departamento de botânica da Universidade de Ciências Naturais do Trinity College Dublin, e principal autor do estudo.

Van Groenigen, com colegas da Universidade do Norte do Arizona e da Universidade da Flórida, examinaram todas as pesquisas feitas até hoje em 49 diferentes experimentos, em sua maior parte da América do Norte, Europa e Ásia, e conduzidos em florestas, pastos, pântanos e campos agrícolas, incluindo os de arroz. O tema comum dos experimentos era que todos mediam quanto o CO2 extra na atmosfera afeta o modo como o solo absorve ou libera os gases metano e óxido nitroso. A equipe utilizou uma técnica estatística chamada meta-análise, uma ferramenta útil para encontrar padrões gerais em um mar de resultados conflitantes. "Até hoje, não havia consenso sobre este tópico, porque os resultados variavam de um estudo para o outro", explicou Craig Osenberg, da Universidade da Flórida, e co-autor do estudo. "No entanto, dois fortes padrões emergiram da análise de todos os dados: primeiro, o CO2 aumenta as emissões de óxido nitroso do solo em todos os ecossistemas e, segundo, em campos de arroz e pântanos, CO2 extra leva a mais liberação de metano".

Os culpados são organismos microscópicos no solo, que respiram as substâncias químicas como humanos respiram oxigênio. Os micróbios também produzem metano, um gás estufa 25 mais poderoso que o CO2, e óxido nitroso, 300 vezes mais poderoso que CO2. O fato de não usarem oxigênio é uma das razões pelas quais estes microorganismos florescem quando aumentam as concentrações de CO2. Van Groenigen explica: "Concentrações maiores de CO2 reduzem o uso da água pelas plantas, tornando os solos mais úmidos, o que por sua vez reduz a disponibilidade de oxigênio para o solo, favorecendo estes microorganismos".

A outra razão para que estes microoganismos se tornem mais ativos é que o aumento de CO2 faz com que as plantas cresçam mais rápido, e este crescimento extra dá aos microorganismos mais energia, o que acelera seu metabolismo. Este crescimento extra das plantas é uma das maneiras pelas quais ecossistemas podem desacelerar a mudança do clima. Com mais CO2, as plantas crescem mais, absorvendo CO2 através da fotossíntese, e a esperança é que elas armazenassem mais carbono em madeira e no solo. Mas este novo trabalho mostra que pelo menos parte do carbono extra também alimenta microorganismos cujos subprodutos, óxido nitroso e metano, acabam na atmosfera e contrabalançam os efeitos de resfriamento do maior crescimento das plantas. "É um ponto e contraponto ecológico: quanto mais as plantas armazenam CO2, mais micróbios liberam os gases estufa", disse Bruce Hungate, professor da Universidade do Norte do Arizona e co-autor do estudo. "O contraponto dos micróbios é apenas parcial, reduzindo o efeito de resfriamento das plantas em cerca de 20%." Mas isto é uma surpresa ecológica, e ela terá de ser levada em conta pelos modelos do clima para que eles refinem os cenários sobre o futuro.
Fonte: Planeta Sustentável

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