terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Trabalhando com paródias - I

Dentre os muitos problemas enfrentados pelo professor na sua jornada cotidiana está o desafio de tornar suas aulas mais atraentes, prazerosas e estimulantes para ele e seus alunos. Há muito tempo essa questão é discutida nas universidades, programas de TV, revistas especializadas, etc. e muitas alternativas têm sido propostas. Em se tratando do ensino de Ciências, uma forma interessante de trabalhar o conteúdo é a utilização de músicas e paródias. Vários autores destacam o uso de músicas e paródias como  alternativa para enriquecer ou modificar a prática docente, além de serem importantes ferramentas para estimular o interesse, a criatividade, o trabalho em grupo e o desenvolvimento cognitivo dos alunos gerando também motivação, além de um melhor rendimento no que se refere às avaliações. O mais interessante disso é que não há restrições quanto ao segmento de ensino para sua aplicação. Já desenvolvi trabalhos nesse sentido com alunos de 6º e 7º ano do ensino fundamental, 2º ano do ensino médio e até com alunos de graduação do curso de Ciências Biológicas.
Como isso foi feito? No caso dos alunos do ensino fundamental e médio, apresentei uma paródia relacionada ao conteúdo estudado. A partir daí, propus que eles se dividissem em grupos e criassem suas próprias paródias utilizando para tal os mais diferentes estilos musicais, para apresentarem em sala de aula. O resultado foi surpreendente. Aqueles alunos chamados “problema” quase sempre eram os mais animados e, em geral faziam as paródias mais engraçadas... As aulas eram divertidíssimas! Havia casos de paródia da paródia. Alunos pegavam a minha paródia e criavam as suas... Nas avaliações, houve casos dos alunos responderem as questões com versos inteiros das paródias criadas por eles.
Na graduação, trabalhamos com alunos do curso de Biologia que, como futuros professores, enfrentariam os desafios de como motivar os alunos, como estimulá-los e tornar suas aulas mais interessantes. Seguiu-se a mesma metodologia. Eles deveriam criar paródias para utilização em suas próprias aulas. Confesso que fique meio apreensivo, achei que eles não “comprariam” a idéia. Para minha surpresa, no dia da apresentação a sala de aula parecia um estúdio musical, havia teclado, violões, gaita... Ficamos horas e horas, cantando, rindo, aprendendo...
Interessante também, foi a variedade de estilos escolhidos para a criação das paródias: MPB, samba, rock, pop, gospel...
Seguem duas paródias criadas nessas atividades. Em breve postarei mais.

 

 A malária me fez sentir muita dor

          

                           Que nem maré

                                                (Jorge Vercilo)


Tô com um febrão
Porque fui picado
Por um mosquitão
O Anopheles ta aí
Em regiões alagadas perto de ti

A malária me fez sentir muita dor
Eu tomei um remédio chamado Cloroquina
Foi o que melhorou
O remédio aliviou minha dor

Faz um tempão
Que eu tô passando
Essa situação
O plasmódio tá num lugar
No fígado, no meu baço ou glóbulos vermelhos

A malária me fez sentir muita dor
Eu fiquei com anemia e falta de ar
Depois o tremor começou
A malária me desanimou




 

Tricomoníase


                               Anna Júlia
                                                (Los Hermanos)

Quem te vê passar assim por mim
Não sabe o que é sofre
Ter que ver você assim, toda ferida
Com um cheiro de “cheetos” de enjoar, é triste de inalar
Na incerteza dessa dor, de achar que era nada
Inflamação na vagina corre um líquido branco ou amarelado.

É, tricomoníase. É,  tricomoníase.

Nunca acreditei na ilusão de ter essa doença
E atormenta de montão, o nosso clima
Eu passando o dia a esperar o corrimento parar
Quando tudo tiver fim, quero saber
Se foi com outro cara ou se fui eu amorzinho
Será sempre um espinho na nossa relação.

É, tricomoníase. É,  tricomoníase.

Sei que você já não quer o meu amor
Sei que você já não gosta mais de mim
Eu sei que eu não sou quem você sempre sonhou
Mais vou reconquistar o seu amor todo pra mim

É, tricomoníase. É,  tricomoníase.


  
Sugestão de leitura:
AZEVEDO, M. J. da C. A música como instrumento de construção de competências. In: Encontro Regional de Ensino de Biologia, Niterói. Novo milênio, novas práticas educacionais?. Sociedade brasileira de Ensino de Biologia, 2001. 
MIRANDA, J. C.  A música como instrumento do ensino de Ciências. In: VIII EPEB - Biologia e cidadania: contextos de ensino e produção científica, São Paulo. Anais do VII EPEB, 2002. 

MIRANDA, J. C.  Futuros professores e a produção de paródias como recurso didático para o ensino de Ciências. In: II EREBIO, São Gonçalo. Formação de professores de Biologia: articulando universidade e escola, 2003. 







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