Como
todos os que estão nas escolas, tenho muitas histórias para contar. Algumas
minhas, outras dos colegas... Hoje me veio à memória
a história de um amigo, também professor de Biologia, que trabalhava em uma escola
particular em São
Gonçalo. Há uns 15, talvez 20 anos, ele estava no recreio do
turno da manhã quando um grupo de alunas "invadiu" a sala dos
professores, desesperadas, por que havia um aluno armado no banheiro masculino
dizendo que ia matar um colega. Foi um desespero na escola. Ninguém sabia muito
bem como proceder. Alguns queriam chamar a polícia, outros os pais do aluno.
Meu amigo resolveu ir até o banheiro e tentar convencer o aluno a desistir de
machucar o colega. Lá se foi ele... Entrou no banheiro com todo cuidado,
chamando a atenção do aluno pra si, tentando dialogar, entender o que se
passava. Foram alguns minutos de uma conversa tensa... O aluno explicando que
não aguentava mais tanta “encarnação”, sentia-se humilhado, não suportava mais
as “brincadeiras” a que era submetido e, por isso, resolveu dar um basta
naquela situação. Meu amigo tentou argumentar, mostrar pra ele as consequências
daquele ato e que ele não poderia jogar sua vida fora... Por fim, ele foi se
aproximando do aluno, o abraçou e tirou o revolver de suas mãos. Os pais do
aluno foram convocados para uma reunião e ele deixou de estudar naquela
escola. Meu amigo nunca mais teve notícias do aluno, até que um dia
andando na Praça XV, percebeu que havia um grupo de 4 ou 5 homens o seguindo.
Ele resolveu apertar o passo quando de repente, chamaram seu nome. Ele
“gelou”.Parou, olhou para trás e viu um oficial da marinha e grupo de soldados.
O oficial se aproximou e disse: “Professor, o senhor se lembra de mim?” Meu
amigo pensou, pensou e disse que vagamente... O oficial perguntou então: “O
senhor se lembra do rapaz que queria matar o colega no banheiro da escola? Eu
sou aquele rapaz. Quando vi o senhor hoje fiz questão de vir cumprimentá-lo e
agradecer pelo que o senhor fez. Hoje eu sou um oficial da Marinha do Brasil e
o sou por causa da sua atitude e suas palavras naquele dia. O senhor também é
responsável pelo que sou hoje. Muito obrigado!”
Essa
pequena história (que sempre me emociona) retrata a importância do professor,
como alguém cujo papel vai além do “ensinar conteúdos”, alguém que ensina para
vida, alguém que muda vidas.
“Se
não morre aquele que escreve um livro ou planta uma árvore, com mais razão não
morre o educador que semeações escreve na alma”. [Bertold Brecht]
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