Símbolo maior da masculinidade, a testosterona diminui com o envelhecimento - e, segundo um novo estudo, também com a paternidade. Homens que se envolvem em um relacionamento estável e na criação de seus filhos produzem até 34% menos este hormônio do que os solteiros. A conclusão é de antropólogos da Northwestern University, dos EUA, que acompanharam 624 filipinos de 21 a 26 anos de idade, período no qual um terço deles tornou-se pai.
A baixa hormonal, no entanto, não quer dizer que estes homens tornaram-se menos viris. Isso, segundo os pesquisadores, é apenas uma concepção cultural, e das mais capengas. A menor produção de testosterona fez até bem para os pais. Segundo o estudo, os homens que constituíram família e preocupam-se com ela são menos suscetíveis a envolver-se com álcool e drogas, ou mesmo a desenvolver doenças cardíacas e câncer de próstata.
Nos mamíferos, a testosterona está ligada à libido, à busca por relacionamentos amorosos e ao desenvolvimento da musculatura. Mas, de acordo com a pesquisa, "se o hormônio contribui para a estratégia da reprodução (...), homens que asseguram uma parceira e tornam-se pais baixam sua produção, particularmente se eles cuidam com frequência de seus filhos".
Aos números: a testosterona tanto ajuda um macho a conseguir uma parceira que, nos homens em que ela se faz mais presente, o primeiro filho chega até 4,5 anos mais cedo do que em seus "concorrentes". A partir daí, a produção hormonal começa a baixar. E ela atinge seus níveis mais baixos nos pais que se envolvem três horas diárias ou mais na criação de seus filhos.
O homem, ressalta o estudo, é um dos poucos mamíferos a desempenhar um papel paternal. A quantidade de testosterona está por trás desse comportamento. Homens com maior presença desse hormônio têm mais problemas conjugais e propensão para o divórcio. Também seriam menos sensíveis, inclusive, ao choro de crianças.
"Embora estudos anteriores tenham levado à especulação de que a paternidade reduz a testosterona nos homens, nossos resultados demonstram que tornar-se pai faz este hormônio declinar e manter-se baixo", escreveram os autores da pesquisa, Lee Gettler e Christopher Kuzawa, que publicaram um artigo sobre seu trabalho na edição de hoje da revista "Proceedings of the National Academy of Sciences".
O homem, assim, repete o comportamento visto em outras espécies onde o cuidado paternal é comum, como em alguns pássaros. Em todos nós, o eixo hipotálamo-hipófise-gonadal do cérebro faz a mediação entre duas atividades: o acasalamento e o investimento na paternidade.
- Os homens estão biologicamente sintonizados com a paternidade, e isso se dá com o grande declínio da testosterona - explicou Gettler ao GLOBO. - Isso também mostra como somos flexíveis aos contextos sociais. Se o homem escolhe envolver-se com seus filhos, eles acabam produzindo menos aquele hormônio.
Para o antropólogo, é cedo afirmar se esta queda na testosterona seria mais visível hoje do que séculos atrás. Gettler, no entanto, acredita que esta "resposta biológica" à paternidade seria resultado da evolução. Uma forma de o homem estar mais presente na criação dos filhos. Afinal, em nossos parentes mais próximos, os chimpanzés, os machos não se envolvem com a criação de seus filhotes.
Mas a testosterona, mesmo hoje, ainda conta com bastiões de resistência. Segundo o pesquisador, os declínios na presença do hormônio não seriam tão grandes se o estudo fosse conduzido em outras culturas - nas Filipinas o homem costuma participar ativamente da formação dos filhos.
- O padrão que encontramos, onde os pais produzem menos hormônio do que os solteiros, só é válido em um contexto: nos locais em que os pais costumam ajudar as mães com os filhos - ressalta. - Se formos em culturas onde isso não é comum, provavelmente o estudo não teria o mesmo resultado.
Fonte: O Globo
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